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Foto do escritorAlexandre Boure

O Conto da Aia e a escrita de Margaret Atwood



Margaret Atwood escreve com uma delicadeza sombria em O Conto da Aia. Uma prosa poética, frágil em um enredo sinistro. Muita gente não consegue ter uma leitura fácil com prosa feminina, ou prosa escrita por uma mulher, isso acontece quando se lê mais livros escrito por homens, o que é meu caso também. Li devagar O Conto da Aia pois o estilo de Margaret Atwood me pesa um pouco. Ela tem uma presença poética e uma estrutura narrativa que te leva a uma leitura mais lenta.


Penso que o enredo do livro O Conto da Aia escrito por Stephen King poderia ter até uma empolgação a mais no ritmo e cenas, mas no fundo não teria o gosto que Margaret Atwood deixa a história de forma tão peculiar. Um teor feminino de um universo que nós homens pouco conhecemos e talvez não respeitamos o suficiente para entendê-lo.


O livro O Conto da Aia narra um mundo distópico onde o EUA não é mais uma democracia, o governo é tomado por um grupo radical denominado Filhos de Jacó, esse novo regime é totalitário e teocrático. A realidade criada por Margaret Atwood em O Conto da Aia tem como mote principal o machismo velado em bons costumes amparado por um dos livros mais machista de todos: A Bíblia. Nesse mundo novo as mulheres pagaram o pato... O mundo em si sofreu com diversos problemas globais, não fica exatamente claro tudo que aconteceu, mas as coisas não vão bem no ar, radiação de bombas, a poluição tóxica e doenças levou boa parte das mulheres a se tornarem estéreis. Margaret Atwood expõe de forma sutil a verdade sobre a esterilidade estar presente nos homens também, mas já disse é um mundo totalitário religioso e machista, então... As aias são um grupo de mulheres que se submetem a um Comandante e Sua Esposa. Há uma cena, que é uma espécie de ritual quando esse Comandante irá tentar fertilizar, na verdade é uma cena de estupro velado, por passagens da Bíblia que ele lê antes de penetrar a aia que está sendo segurada pela Esposa. As aias não tem escolha, elas são como eram os escravos, presos a roda de um sistema, onde veem outras mulheres contribuir para roda desse mundo absurdo girar, essas outra mulheres conformada e muitas delas cúmplices do regime são chamadas Tias ( que são figuras que trabalham a mente das aias como numa lavagem cerebral) existem ainda as Marthas que são serviçais estéreis e as Esposas que seriam mulheres com o maior dos privilégios por serem esposas dos Comandantes. Elas participam dos rituais onde o Comandante estupra as aias protegido pela Bíblia e pelo regime. O Conto da Aia é uma ficção científica que alerta para algo que pode acontecer, e na verdade acontece já de uma forma ou de outra em países ligados ao islã, tendo cenas ainda mais cruéis do que vemos no livro O Conto da Aia. Talvez ao escrever o livro Margaret Atwood não teve acesso ao que hoje está aí para todo mundo ver na internet, ou seja, de certa forma ela quis criar um mundo terrível e o fez só que infelizmente já vivemos realidades tão terríveis só que diferentes das do livro e encobertas facilmente por nossa sofreguidão de viver as belezas da democracia e do consumo capitalista.


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