Graciliano Ramos nasce em 1892, no sertão de Alagoas, filho de comerciante. Em 1904, aos 12 anos, cria um jornalzinho dedicado às crianças, o Dilúculo. No ano seguinte, vai para Maceió, onde frequenta, por pouco tempo, o Colégio Quinze de Março, dirigido pelo professor Agnelo Marques Barbosa. Redige o jornal Echo Viçosense entre 1905 e 1906. Em 1909, passa a colaborar com o Jornal de Alagoas, de Maceió, onde permanece até 1913. Em 1911, colabora com o Correio de Maceió e publica sonetos na revista carioca O Malho, até 1915.
Graciliano não teve formação escolar superior, mas era um leitor voraz, adquirindo jornais, livros e revistas pelos correios. Desde 1917, já apresenta interesse pela política, especialmente a Revolução Russa.
Nas palavras do autor: Tendo vivido quinze anos completamente isolado, sem visitar ninguém, pois nem as visitas recebidas por ocasião da morte de minha mulher eu paguei, tive tempo bastante para leituras. Depois da Revolução Russa, passei a assinar vários jornais do Rio. Desse modo me mantinha mais ou menos informado, e os livros, pedidos pelos catálogos, iam-me daqui, do Alves e do Garnier, e principalmente de Paris, por intermédio do Mercure de France. (SENNA, 1996, p. 200-201).
Nessa mesma época, conhece José Lins do Rego, que comenta ter ficado encantado com o homem que conhecia Balzac, Zola, Flaubert, e falava inglês, francês e italiano.
Foi o poeta Augusto Frederico Schmidt que escreveu uma carta consultando Graciliano sobre a possibilidade de a Editora Schmidt, que estava justamente investindo em autores brasileiros estreantes, publicar seu romance. Em 1933, quando Graciliano já estava com 41 anos, Caetés foi lançado, com tiragem de mil exemplares. A segunda edição, editada pela José Olympio, foi publicada apenas em 1947.
1938
O Jornal do Brasil, em 7 de abril de 1938, noticia o lançamento de Vidas Secas:
A simples menção do nome de Graciliano Ramos como autor de um novo romance é motivo suficiente para se prognosticar um novo e grande sucesso, quer de livraria, quer de crítica. É que este autor, em três livros publicados antes do atual, Caétes,São Bernardo e Angústia, conseguiu, graças à excelência de sua obra, alcançar um posto não disputado por nenhum dos romancistas brasileiros dos últimos tempos. ( JORNAL, 1938).
Para o Correio da Noite, de 23 abril de 1938,
“a cada novo livro que Graciliano Ramos publica, a crítica e o público se encontram diante de qualidades novas adicionadas às já demonstradas pelo autor nos seus livros anteriores”. Na opinião do jornal, Vidas secas (1. ed) e São Bernardo (2. ed.)
[...] repetirão os extraordinários sucessos alcançados sistematicamente por todos os livros de Graciliano até agora publicados. Satisfaz essa certeza aos que se interessam pela nossa literatura, por que Graciliano Ramos é uma personalidade de escritor que pode servir de orgulho a qualquer país realmente civilizado. (LIVROS, 1938).
O Jornal do Brasil, quase trinta anos após o lançamento do livro, em 21 de janeiro de 1966, não poupa elogios ao autor:
A obra de Graciliano Ramos firma-se, cada vez mais, como um dos marcos da literatura brasileira. Críticos e público estão conscientes de que essa obra é imperecível, perfeita de forma e conteúdo. Dentre os romances de Graciliano, Vidas Secas se distingue pela original apresentação de episódios isolados, verdadeiros contos, e pela narração direta. Fabiano, Sinhá Vitória e os filhos, pertencem inelutavelmente, com suas vidas amargadas, à paisagem árida do sertão nordestino. O romance, já traduzido até agora para nove idiomas, vem de ser relançado pela Livraria Martins Editora, em 14a edição. (JORNAL, 21 jan. 1966).
Sucesso editorial
A chamada literatura best-seller descende do romance-folhetim, surgido no século XIX na França e Inglaterra, com o desenvolvimento da linotipia, que permitiu o aumento da tiragem dos jornais onde eram veiculados de 3 mil para 100 mil exemplares.
No Brasil, ainda nos dias de hoje, um romance que vende mais de 10 mil exemplares já pode ser considerado um bestseller, em comparação ao reduzido número de 3 mil exemplares impressos em média. Os chamados romances best-sellers, portanto, são livros procurados pelos leitores e por isso nos interessam. Os fatores que influenciam o sucesso de vendas de um livro são vários, que atuam de forma combinada, ainda que com pesos diferentes, desde a história contada, a linguagem, o gênero literário, o autor, a editora por onde publica, a propaganda em torno do autor e do livro, a crítica publicada na imprensa, o preço, os prêmios literários que envolvem a obra e o autor. Os prêmios literários são julgados por comissões de especialistas em literatura, conferindo destaque aos selecionados e incrementando as vendas.
Do ponto de vista financeiro, a situação de Graciliano era difícil. Além dos poucos recursos provenientes dos direitos autorais de seus livros, principalmente das Memórias do Cárcere, que José Olympio vinha há anos pagando adiantado ao autor, trabalhava como inspetor de ensino do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. Logo após o lançamento póstumo de Memórias do Cárcere, em edição de 10 mil exemplares, que esgotou em 45 dias, José Olympio reeditou Caetés (4a edição), Angústia (6a edição), Insônia (3a edição), São Bernardo (5a edição), Vidas Secas (4a edição), todos com tiragem de 6 mil exemplares. As 2a e 3a edições das Memórias foram publicadas em seguida, no ano de 1954. Apenas dois anos depois, no ano de 1955, o editor lança novas edições dos outros livros do autor, com tiragens de 5 mil exemplares cada.
Desde então, o interesse dos leitores, estudiosos de literatura e críticos literários por sua obra só ampliou e seus livros foram adotados em escolas, universidades, vestibulares e concursos. Calcula-se que até 2018, contabilizando as vendas desde 1933, tenha se vendido mais de 7 milhões de exemplares de seus livros; e encontra-se publicados em 38 países e 30 idiomas.
Graciliano Ramos hoje é editado pelo Grupo Editorial Record, que responde pelos direitos autorais dos textos impressos do escritor. O presidente da Record, Sérgio Machado, afirma que Graciliano ainda vende bem em livrarias, onde Vidas Secas alcança, em média, 60 mil exemplares ao ano e São Bernardo, 19 mil; não estão computadas vendas a crédito ou em bancas.
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